quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

OS NOMES DOS JOGADORES

Goleiro não pode ser inho.
Um goleiro chamado Tiquinho, Robinho ou  Marcinho não é confiável.
Eles precisam de um nome sério e simples de quem não pode brincar em serviço.
Fábio, Vitor, Gilmar, Dida, Tafarel, Marcos, Castilho, Barbosa, Raul, Jefferson.
Dentre os bons, poucos têm nomes duplos como Rogério Ceni ou Júlio César.
Zagueiros também precisam nomes respeitáveis, condizentes com as atribuições.
Apelidos brejeiros ou diminutivos não prevalecem.
Os grandes zagueiros se chamaram Belini, Mauro, Luiz Pereira, Aldair, Brito, Domingos da Guia, Pinheiro (embora Luiz Pereira também fosse conhecido por Luiz Chevrolet o que, em todo caso, não o desvalorizava, já que a marca era respeitável.)
Apenas um grande zagueiro no diminutivo: Luizinho que jogou no Galo e na seleção de Telê em 1982.
Dedé não é nome de zagueiro.
É apelido de criança na fralda ou recém saído dela.
Apelido inocente, hilariante.
Tanto que o chamam também de Bebezão.
Poderia ser meia atacante, lateral-ala ou outra posição mais saltitante.
Zagueiro, nunca.
Dedé é nome que não inspira confiança e pode acabar com a carreira de quem joga numa posição de muito respeito.
Laterais, transformados em alas e hoje tendendo a laterais de novo,  permitem algumas brincadeiras, embora tenham uma história de seriedade começada com Djalma Santos e Nilton Santos que ninguém ousaria chamar de Djalminha ou Niltinho.
Quando se tornaram alas, gente saltitante e veloz, receberam nomes menos pomposos.
Do meio pra frente há uma profusão de Donizetes.
Nunca conheci um só Donizete padeiro, professor, porteiro, mas no futebol eles proliferam.
O que leva pai ou a mãe a decidir que o moleque se chamará Donizete será sempre um mistério.
Na frente, qualquer apelido é aceito, mas os volantes não podem ter quaisquer nomes.
Zito, Falcão, Piazza, Dunga.
Nomes respeitáveis.
Felipão escalou Fernandinho de volante na copa de 2014.
Deu no que deu:  7 a 1.
"Inho" não pode ser volante.
Quando havia pontas, o ponta esquerda era o campeão dos nomes esquisitos, embora na direita também sobrassem estranhezas como Garrincha ou Telê.
Na frente cabiam todos os "inhos",  porque eran pequenos e velozes, matreiros e carregavam consigo as surpresas infantis.
Foi o tempo de Quarentinha, Paulinho, Manuelzinho, Tiquinho, Pintinho, Miltinho, Tomazinho, Vaguinho, Zizinho, Coutinho.
Robinho talvez seja o último dos "inhos" que deu certo, já que Ronaldinho encerrou carreira quando saiu do Atlético Mineiro e o primeiro Ronaldinho tenha se transformado em Ronaldo Fenômeno.
Os apelidos engraçados também escassearam com o advento do politicamente correto.
Já não há mais Jacaré, Pavão, Saúva, Canhoteiro, Tiziu, Pelé, Jaburu, Manga, Melão, Tostão, Tangerina, Fubá, Feijão, Batata, Canário, Piau, Lambari e toda fauna e toda culinária.
Minto.
Temos Pato, Ganso e Hulk, mas a tendência da moda aponta para nomes artísticos.
Neymar deu de escrever nas costas da camiseta "Neymar Jr".
E tem Leonel Messi, Cristiano Ronaldo que é, também CR7, Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart, Leandro Damião, Renato Augusto, Davi Luís, Diego Tardelli.
Moda é uma coisa que pega.
Eu me peguei chamando meu filho/enteado assim: "Ôh, Artur Haddad."
Já o chamei de Tute, mas hoje não pega bem.
PS: Para nossa alegria, o goleador heroico do torcedor mais fiel do país, os corais do Santa Cruz de Recife, chama-se Caça Rato. Usa o número 7 às costas. É o CR7 nordestino.

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