terça-feira, 25 de dezembro de 2012

GILVAN E PERRELA - ROMPIMENTO NO CRUZEIRO

Nos bastidores do Cruzeiro há um fortíssimo embate político.
De um lado, Gilvan de Pinho Tavares, atual presidente que busca uma nova política de sustentação do clube.
De outro, Zezé e Alvimar Perrela, cujo modelo mercantilista - balcão de vendas - durou até ano passado.
Perrela colocava na vitrina e vendia seus melhores jogadores, revelava outros adquiridos a preço baixo no mercado interno e iniciava outro ciclo de vendas.
Isto foi necessário durante um certo período - 1995 a 2004 - e rendeu bons frutos. 
Quando se tornou uma prática conhecida por todos, revelou-se danosa.
Jogadores chegavam ao Cruzeiro para serem expostos na vitrina.
Estavam alí só de passagem.
Nenhuma identificação.
Então os títulos escassearam, sumiram.
Exceto os estaduais, nenhum outro.
Mas Perrela defendia seu modelo baseado em vendas. 
Mostrava que nele não havia atrasos salariais.
Esse era outro argumento para atrair jogadores vendáveis ao mercado europeu.
Deu certo enquanto não havia crise na Europa e os times do velho continente nadavam em dinheiro.
No auge de eficácia do modelo, Zezé vendeu Geovani por 18 milhões ao Barcelona e Fábio Júnior por 17 milhões de dólares ao Roma.
O modelo culminou com a conquista do brasileiro em 2003, mas daí em diante, foi decaindo.
Não houve mais nenhuma conquista expressiva, embora tenham sido formados times fortes, e um deles, último, quase conquistou a Libertadores.
Durante todo o tempo, foram vendidos jogadores como Sorin, Dida, Edu Dracena, Felipe Melo, Gomes, Cris, Maicon, Luizão, Leandro, Mota, Alex, Alex Alves, Fred, Jefferson (goleiro), Jonathan, Jussiê, Gerson Magrão, Charles, Maicossuel,  Marcinho, Mariano, Tiago Ribeiro, Marcelo Moreno, Guilherme, Dudu, Ramires e outros.
Além de inúmeros jogadores da base que foram vendidos antes de vestirem a camisa de titulares como Maxwel, Gabriel, Maicon (do Benfica), etc.
Ao longo do governo Lula o Brasil mudou economicamente, os patrocínios tornaram-se importantes, o dinheiro da TV aumentou muitíssimo, e o modelo administrativo que foi bom até 2004, deixou aos poucos de ser.
Clubes como Grêmio, Inter, Corínthians, o próprio Galo e até o Santos se modernizaram.
Buscaram outras alternativas que não os atrelassem à venda de seus melhores jogadores.
O Cruzeiro dos Perrela permaneceu parado no tempo.
Ao final de 2011, Zezé deixou a presidência.
Carregou consigo acusações de enriquecimento ilícito.
O time só escapara ao rebaixamento na última rodada.
Um final melancólico.
A crise na economia européia secou a fonte que irrigava o balcão de vendas do modelo Perrela.
E eles deixaram o clube em séria crise, sem dinheiro em caixa.
No poder, Gilvan rompeu com a linha administrativa de Zezé Perrela.
Passou sufoco nos primeiros meses de 2012, atrasou salários, mas não vendeu Montillo como queria o ex-presidente.
Equilibrou as finanças do clube sem apelar para a venda do seu jogador mais valorizado.
Formou um time modesto em 2012, classificando-se apenas para a Sulamericana.
Mas não passou o sufoco do último ano Perrela que quase afundou os azuis na segundona.
Em 2013 está formando um time mais competitivo.
A política do balcão de vendas, parece, foi deixada para trás definitivamente.
Gilvan aposta no Sócio Torcedor, nas rendas do Mineirão, na solidez de alguns patrocínios.
Apesar de ser mais velho, no aspecto administrativo é mais novo que Zezé Perrela.
Descontende com o fim do antigo modelo administrativo, o vice de futebol José Maria Fialho demitiu-se. 
Ele era o representante, o elo de ligação de Zezé com o Cruzeiro.
Deu-se aí o rompimento total de Gilvan e de Perrella no clube. 
Na reinauguração do Mineirão, na sexta-feira, Fialho chegou ao estádio no  carro de Zezé e Alvimar Perrella. 
E Zezé, agora senador no lugar do falecido Itamar, deitou falação.
Disse que venderia Montillo.
Que não tem medo de torcedor. 
Repetiu que, vendendo, nunca atrasou salários.
Com essas declarações quis alfinetar o presidente Gilvan, esquecendo-se de que o atraso salarial ocorrido nos primeiros meses da gestão atual foi causado por ele.
Ele deixara a venda de Montillo engatilhada como única alternativa a que compromissos não fossem descumpridos.
Mas Gilvan não vendeu, reorganizou o clube financeiramente e hoje não precisa mais vender jogadores para honrar compromissos.
Acontece que, no dia da reinauguração do MineirãoZezé, de modo surpreendente, defendeu de novo a venda do argentino.
Por quê? 
Se não é para honrar compromissos, por quê?
Sabe-se que ele negociou 20% dos direitos federativos do atleta com um investidor desconhecido.
Por 1,4 milhão de dólares.
E nunca revelou quem é ele.
Com suas declarações, dá a impressão de forçar o Cruzeiro a vender Montillo para realizar o lucro do investidor.
Insinua-se que pode ser o laboratório EMS, antigo parceiro da administração Perrela.
Mas por que um antigo parceiro impediria que esta parceria em particular fosse revelada?
Mistério.
Se fosse um negócio claro, o obscuro investidor proporia a venda ao Cruzeiro dos tais 20%.
Mas, não.
Permanece na obscuridade e Zezé Perrela força a venda.
Pode-se pensar, então, que o investidor é ele mesmo, Zezé Perrela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário